sexta-feira, 27 de março de 2009

Adamastor, um ensaio mutante descompromissado - 2º capítulo

Por Marco Antonio Martins

Capítulo 2
Filho de pais franceses, que desembarcaram a passeio em Pernambuco no finalzinho do século 19 e nunca mais retornaram a Nice, Adamastor foi batizado como Jean-Paul Armand. Mas justamente por causa da carinha e jeito de gringo, o moleque ganhou logo o apelido mais esdrúxulo que os companheiros de pelada poderiam arrumar. E Adamastor, com certeza, não combinava nada com Jean-Paul. E para um apelido pegar é só mostrar irritação. Foi assim com Adamastor. Ele xingou, brigou, mas acabou se rendendo ao novo "nome".

O "sobrenome" Sentinela veio bem mais tarde, nos tempos de serviço militar em Recife. Indisciplinado, Adamastor nunca gostou dessa historinha de "sim, senhor", "não, senhor" e como punição para a falta de compostura, sempre era obrigado a montar guarda no portão do quartel. Virou o sentinela preferencial do sargento e para o apelido ser devidamente recheado, com nome e sobrenome, foram dois palitos.

Adamastor viveu bem até os 18 anos, com tudo em casa, fartura, acesso a boa educação, as revistas em quadrinhos compradas todas as semanas. Mas o pai Jacque, engenheiro agrônomo, que mantinha a família com o gordo salário pago por uma universidade federal, foi vencido pela malária contraída há vários anos. A mãe, Marry, adoeceu logo em seguida e perdeu o emprego como secretária executiva de uma empresa ferroviária devido ao número excessivo de faltas. O padrão de vida desabou e Adamastor viu seu castelinho de adolescente virar de pernas para o ar.

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